terça-feira, 30 de abril de 2013

1º de maio - Dia do Trabalhador. E nós, trabalhadores, com isso?


Artur Pires

Todo 1º de maio se comemora o Dia Internacional do Trabalhador. Mais do que festejar com júbilo a data, é necessário que se reflita e se discuta sobre as condições atuais da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.

De antemão, é importante sublinhar que, dentro do atual modelo abundante de produção e consumo, a liberdade da classe trabalhadora torna-se, cada vez mais, um horizonte que sempre se distancia a cada aproximação, algo inalcançável dentro desse modus operandi puramente economicista do deus-mercado.

Com a mais recente crise do modo de produção capitalista, que se arrasta e se aprofunda desde 2008, quando estourou nos Estados Unidos, até o atual momento de colapso econômico europeu, a situação da classe trabalhadora vem se precarizando aceleradamente. Menos direitos e mais deveres, menores salários, mais horas trabalhadas, mais exploração, mais desemprego! 

A lógica é extremamente perversa e, por consequência, inversa: os senhores do capital (governantes e empresários das potências capitalistas), que se julgam donos do mundo, salvam bancos e outras multinacionais da bancarrota – os grandes responsáveis, juntos com os governos de plantão, pela atual crise do capitalismo financeiro - e condenam à indignidade, ao arrocho salarial, à redução de direitos históricos e ao desemprego milhões de pessoas no mundo todo. Óbvio: para o modo de produção baseado no dinheiro e na exploração do trabalhador (mais-valia), bancos e multinacionais são mais importantes do que gente!

Na maioria das vezes sem sequer perceber, os trabalhadores do mundo todo estão atrelados a um modus vivendi cíclico, exaustivamente repetitivo e alienante, profundamente nocivo à essência humana coletiva, gregária: trabalhar, consumir, assistir à televisão (que reproduz as representações sociais, os valores e os padrões dessa sociedade do espetáculo, da abundância, do deus-mercado) e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir... Num círculo hipnotizante e vicioso!  Bilhões (sim, bilhões!) de cidadãos em todo o mundo, hoje, repetem esse “modo de vida” diariamente.

Essa é a “liberdade” que o capitalismo tem a oferecer para os trabalhadores. A liberdade de escolher entre que produto comprar dentro da abundância de mercadorias em um shopping center e a liberdade de escolher o canal que se quer assistir na televisão (quando, majoritariamente, todos têm o mesmo discurso padronizado). No atual sistema de produção e consumo, o ser humano não está condenado à liberdade, como disse Sartre, mas à falta dela. A liberdade sartriana, intrínseca a cada um, é rotineiramente saqueada pelos ditames do capital, com seus jogos de sedução e fetichismo. 

Como disse Bakunin, em O Sistema Capitalista, "a liberdade do trabalhador, tão exaltada pelos economistas, juristas e economistas burgueses, é apenas uma liberdade teórica, sem quaisquer meios de realizar-se, e, consequentemente, é apenas uma liberdade fictícia, uma absoluta mentira. A verdade é que toda a vida do trabalhador é simplesmente uma sucessão contínua e horrível de períodos de servidão - voluntária do ponto de vista jurídico, mas compulsória pela lógica econômica - interrompida por momentâneos e breves intervalos de liberdade acompanhados de fome; em outras palavras, é a verdadeira escravidão". 

Diante desse quadro, de inversão completa dos valores para uma sociedade justa, humana, de homens e mulheres livres, cabe à classe trabalhadora tomar a dianteira, ser vanguarda nesse processo emancipatório de desconstrução do modelo político-econômico que está (im)posto. Esperar que esse movimento surja do patronato é ingenuidade e resignação. À elite burguesa, interessa tão somente aprisionar os trabalhadores nessa jaula invisível – mas muito real - do consumismo de frivolidades, de aparências.