(Foto:
Divulgação/Amberg Filmes – “Meninos de Kichute")
*Artur
Pires
Não, o título acima decididamente não faz alusão a nenhuma
necessidade iminente de decidir-se sobre algo, de optar por algo ou qualquer
coisa que os valha. É nada mais do que um trocadilho fuleragem para introduzir
o assunto que as próximas linhas abordarão: o futebol na Cidade dos
Funcionários.
Racha é a maneira como milhões de brasileiros se referem
ao ato de jogar futebol, bater uma bolinha. A Cidade dos Funcionários é um
bairro pra lá de propício a esta atividade. Hoje nem tanto, mas até alguns anos
atrás essa banda de cá de Fortaleza agrupava mais campos de futebol do que
qualquer centro de treinamento de time da 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro.
Era um campo a cada esquina.
Foi assim que o bairro se desenvolveu: em volta dos
inúmeros campos de futebol que dividiam com as mangueiras, jambeiros e cajueiros
a composição da paisagem verde desta área. É por este motivo também que a
Cidade e adjacências (Tancredo Neves, Tasso, Vila Cazumba, Cajazeiras) abriga (ou abrigou, uma vez que alguns já fecharam as
portas) diversos times suburbanos da capital: Fortalezinha, Cearazim, Vasquim,
Juventude, Atalanta, Asas, Cifec, Leão Azul, Tancredo Neves, Internacional, Nacional e UGFC.
Lembro das primeiras vezes que, ainda menino véi de 9 ou
10 anos, experimentei sair de casa para jogar bola em algum dos campos aqui da
Cidade. Joguei, desde então, numa dezena deles: no da Pague Menos (era assim
chamado porque ficava atrás da farmácia homônima), no do IPEC, no do Asas, no
campo dos conjunto, no campo das azeitoneiras, no lago, nos trenszim, no campo
do terreno do Antônio Caixeira (ganhamos inclusive um campeonato nesse campo,
que nos valeu, como prêmio, uma galinha de capoeira - ainda viva!) e,
obviamente, no campo de areia da praça (que, infelizmente, não existe mais).
De geração após geração, o costume de bater racha na
Cidade dos Funcionários é mantido. Sagrado! Atualmente, o racha rola às segunda
e terça-feira na quadra da pracinha, a partir das 19h. E não só restrito à
galera da Cidade. Vem jogador do Tancredo Neves, da Vila Cazumba, do Jardim das
Oliveiras, do Vila Verde e das Cajazeiras. Vez por outra, até do Cambeba, da
Messejana e de outras áreas mais distantes.
O racha, quando jogado num clima de respeitabilidade e
harmonia (caso do da Cidade), é um agregador coletivo potentíssimo. Em torno de
jogar futebol, se reúnem pessoas de diferentes bairros. Mas o grande lance –
com o perdão do trocadilho - é que os encontros de segunda e terça na Cidade não
se restringem tão somente ao ato de bater uma bola. Não! Há, também, nas
arquibancadas da quadra toda uma interação maior que vai muito além dos “10
homens correndo atrás de uma bola”. Tem
o momento “feijão verde” (se é que me entendem), antes e depois do racha, tem
as tirações de onda, tem a prosa descontraída, tem a convivência com pessoas de
outras quebradas que, certamente, se não fosse pelo racha que as leva até a
Cidade, nunca as conheceria.
E sabe por quê?! Porque para jogar futebol bastar querer –
e, minimamente, saber chutar uma bola! Não importa se é preto, branco, pobre,
rico, magro, gordo, baixo, alto; o ato de rachar numa quadra de praça é
extremamente democrático (não falo aqui desses campos de aluguel que custam 60,
70, 80 reais a hora). Sem exagero e sem pieguice: a Cidade dos Funcionários (e
seus rachas), assim como outros movimentos no meio da rua vivenciados nesse
bairro ao qual tenho forte sentimento de pertença, me deu muitos amigos, me
trouxe muita convivência com pessoas diversas, me garantiu aprendizados
importantes para minha construção humana. Rachar é, aqui nas áreas, compartilhar!
Como diria o poeta, se o racha não existisse, teria de
ser inventado!
UGFC
O time atual da Cidade dos Funcionários, que tenho
orgulho de fazer parte, o União dos Grafiteiros Futebol Clube (UGFC), formado e
treinado no racha da quadra, com 90% dos jogadores nascidos e criados no bairro,
foi vice-campeão do recente Torneio de Futsal Interbairros disputados no último
final de semana no Canindezinho, bairro da zona oeste de Fortaleza.
Após vencer times do Parque Araxá, do Bonsucesso, do
Jardim Jatobá, do Mondubim e eliminar o time da casa (Canindezinho), fomos
derrotados na final pelo Venturoso, do Pio XII. Vale destacar que o torneio
tinha 24 equipes e éramos o único time de toda a regional VI. O UGFC foi
campeão do Torneio Interbairros do Canindezinho em 2011 e tentava o
bicampeonato. Quem sabe em 2013. Na galeria de títulos do UGFC, consta ainda um
torneio disputado em 2011 na Parangaba.
*Artur
Pires racha nos campos e quadras da Cidade dos Funcionários desde 1994