quinta-feira, 1 de março de 2012

Futebol, corrupção e poder: tudo a ver!

O "ditador" Teixeira não larga o osso..ops, a bola ($$$)! (Charge: Mário Alberto) 

* Artur Pires

Na última terça-feira, 28 de fevereiro, um apático, sonolento e completamente desfigurado e desalmado Brasil venceu a Bósnia por 2 a 1, com um gol contra já no final da partida. Não é de hoje que a Seleção vem, jogo após jogo, maltratando o torcedor brasileiro com sucessivas atuações terríveis, bem abaixo, mas muito abaixo da média. Logo nós, brasileiros, tão acostumados a vermos esquadrões da Seleção que encantavam tamanha a envolvência, habilidade e criatividade que dispensavam à bola, que praticavam o futebol-arte, repleto de dribles, gingas e jogadas inventivas, assim como deve ser, de fato, esse esporte. Que o digam as gerações anteriores à minha geração oitentista, que viram o timaço de 1982, com Sócrates, Zico e Falcão, e a Seleção do Tri, de 1970, com Pelé, Tostão e Rivelino. Ainda acompanhamos o baixinho Romário carregar nas costas um time mediano em 1994 e Rivaldo e o Fenômeno também resolverem por conta própria em 2002. De lá para cá, madeeeeeeiraaaa! A Seleção e seu futebol despencaram.

Não vou aqui posar de saudosista sem causa, mas penso que a atual Seleção, e seu modo sem alma de jogar e se relacionar com o torcedor brasileiro, é reflexo direto da maneira como o futebol é hoje conduzido no mundo e, agravadamente, no Brasil: um meganegócio. Falando em meganegócio ($$$), notícia quentinha: após uma reunião a portas fechadas com presidentes das federações estaduais de futebol, ficou decidido que o todo-poderoso Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 1989, vai continuar à frente da entidade, após semanas na corda bamba, naquele cai-não-cai, com a mídia nativa dando como certa a sua saída, após estourarem denúncias na imprensa mundial vindas de um jornalista investigativo britânico, Andrew Jennings, que em seu livro, "Jogo Sujo - O Mundo Secreto da Fifa", deu conta de falcatruas milionárias do presidente da CBF. No fim, Teixeira não caiu! Para o nosso azar!

O presidente da Confederação e seus capachos na CBF, bajuladores e apalpadores de plantão, são os maiores responsáveis pela decadência do futebol brasileiro, pela transformação de um futebol que já foi arte em mero jogo de interesses escusos. Claro que o processo de mercantilização do futebol não é exclusividade do Brasil, mas aqui, diferentemente de outros países, o poder de decisão sobre o esporte e sobre os investimentos de centenas de milhões de dólares nele aportados ficaram concentrados nas mãos de uma única pessoa: sim, ele mesmo, o poderoso chefão brasileiro!

Ricardo Teixeira fez um dos maiores males ao País ao retirar a identidade da Seleção com o seu povo. Primeiro, o Brasil não joga mais no.... Brasil. Sim, o todo-poderoso levou os jogos da equipe pentacampeã para a Europa, com a alegação de que, como a maioria dos jogadores joga por lá mesmo, seria melhor em relação ao deslocamento. Pura falácia. O que Teixeira esconde é que jogando em estádio A ou B na Europa, a CBF engorda seus cofres com vultosas quantias de dólares/euros, pagas por patrocinadores os mais diversos. Trocando em miúdos, um jogo da Seleção no Brasil não seria tão lucrativo como é um jogo da Seleção na Europa. Danem-se os torcedores brasileiros! O que vale é a bufunfa! Sem falar nos amistosos caça-níqueis contra times do quinto escalão do futebol mundial, como a Bósnia, por exemplo, mas que pagam uma boa grana para jogar contra o Brasil. Contando com a total complacência dos jogadores brasileiros, que não demonstram um mínimo de senso crítico diante do exposto, Teixeira foi, maquiavelicamente, diminuindo a estima do brasileiro pela sua Seleção ao passo em que ia aumentando a sua conta bancária.

Jogadores como o ídolo adolescente Neymar, que, embora jogue muita bola, se mostra mais preocupado com o cabelo moicano e com seus contratos publicitários do que em servir de contraponto à ditadura Teixeira, retratam bem a alienação política dos boleiros brasileiros atuais, que nada contestam e apenas servem de estepe para que o todo-poderoso se perpetue no poder. Que o diga Ronaldo, o Fenômeno, nomeado por Teixeira presidente do Comitê Organizador da Copa. Que falta faz um Sócrates numa hora dessas!

Copa de 2014: Pra frente Brasil?

Copa e corrupção lado a lado no país do futebol! (Charge: Luke)

Em relação à Copa de 2014 no Brasil, o que não vai faltar são oportunidades para fraude e superfaturamento em licitações, desvios de recursos públicos, subornos de toda ordem, entre outras falcatruas para que atores dessa peça de corrupção encham os bolsos. E olhe que não sou contra a Copa no Brasil. Acho, inclusive, que o evento tende a trazer para as cidades sedes, em curto espaço de tempo, por força de contrato com a Federação Internacional de Futebol (FIFA), uma infraestrutura social e urbana que demoraria décadas para ser viabilizada. Com a ressalva maior de que as comunidades que morem no entorno dos estádios ou das obras infraestruturantes sejam respeitadas à risca nos seus direitos.

O que não se pode permitir é que um torneio dessa magnitude tenha como manda-chuva um personagem tão envolvido em escândalos e casos de corrupção. O que não se pode aceitar é que a FIFA, entidade também nada confiável, envolta em corruptelas e desmandos, tal qual uma Cosa Nostra do futebol, suplante a legislação do País e imponha suas regras próprias para a realização do evento. O que não se pode aceitar é que, em nome da Copa de 2014, comunidades sejam despejadas de suas casas, sem o mínimo respeito com a dignidade humana, para dar lugar à “modernização”.

Enfim, o futebol brasileiro, tão rico que é de conquistas e glórias, merece uma melhor administração. A CBF, antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que se tornou atualmente essa megaempresa dona do futebol brasileiro, necessita urgentemente alterar seu estatuto e passar a ser administrada por pessoas que entendam e vejam o futebol como um esporte de pura magia, arte, contemplação e lazer. E, claro, que respeitem a alternância de comando, que realizem eleições regulares a cada dois anos para presidente, diretoria, conselho deliberativo e demais instâncias administrativas. Democracia já para a CBF! Democracia e resgate já para o futebol brasileiro!

Em síntese, o futebol brasileiro não é mais o mesmo. A Seleção não é mais a mesma. A relação do torcedor brasileiro com a Seleção, infelizmente, também não é mais a mesma. Mas Teixeira, esse sim, ainda é o mesmo de quando assumiu a CBF, no longínquo 1989: um empresário mais ávido por lucro e poder do que abutre por carniça. Fora Teixeira! Pelo bem do futebol brasileiro! Pelo bem do Brasil!
 



*Artur Pires é um amante do futebol-arte

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