E lá se foram mais algumas
árvores do Cocó. Com a promessa inócua de que outras serão plantadas em outra
área do Parque. Mas não! Queríamos que aquelas não fossem jamais derrubadas e,
sim, que muitas outras mais fossem permanentemente plantadas. Mas não. Não é
assim que funciona. O “progresso” e o busine$$
são mais importantes. Predatórios. A vida natural, as árvores do Cocó precisam
dar passagem à selva de concreto. E, obviamente, políticos também precisam retribuir
generosamente seus financiadores milionários de campanha eleitoral - não é
assim que funciona nosso sistema político?
Abrindo aqui um parêntese, a
respeito disso, as decisões políticas do governador cearense e do prefeito de
Fortaleza são muito semelhantes às de governantes do período ditatorial; usam
do seu aparato repressor e truculento para literalmente varrer, reprimir
violentamente qualquer oposição, qualquer resistência às suas idéias, aos seus
projetos. A ida do governador ao acampamento do Cocó dois dias antes da invasão
violenta da Guarda Municipal é um capítulo novelesco desse enredo, digno de uma
grande interpretação! (A professora Sandra Helena abordou o assunto no artigo “Disfarces mal disfarçados“, publicado n´O Povo).
Na vida real, sem
teatralização, os acampados foram brutalmente atacados com balas de borracha,
bombas de gás lacrimogêneo e spray de
pimenta. Esse modus operandi da
Guarda é completamente desproporcional, inconcebível, intolerável. A sociedade e
o poder público não podem assistir a mais um ato violento praticado por uma
instituição oficial e nada fazer; devem se revoltar, se indignar em
solidariedade às dezenas de pessoas que foram covardemente agredidas. Mais que
isso: é preciso que se traga à tona, cada vez com mais força, o urgente debate
sobre a necessidade de desmilitarização dos aparatos de segurança. Por fim, é
preciso repudiar o papel da mídia empresarial no ocorrido: cobertura
absurdamente manipulada para achincalhar e deslegitimar a luta dos acampados e,
ao mesmo tempo, defender os abusos cometidos pela Guarda. Fecha parêntese.
A sociedade atual, do
não-vivo, do artificial, nos empurra diariamente goela abaixo padrões de
comportamento e consumo, que funcionam como verdadeiros modelos mentais que
devemos seguir para alcançar uma vida feliz e perfeita, igual a comercial de
margarina. Ter um carro faz parte do roteiro. Com o aprofundamento desse modelo
de sociedade, os automóveis tornam-se cada vez mais acessíveis a uma boa parte
da população. Se antes ter um veículo era símbolo de status, hoje é só mais um produto de consumo banal nas metrópoles. Para
piorar, o Governo Federal, em tempos de crise, incentiva, com a diminuição de
impostos, a compra e a venda de mais carros. As metrópoles – Fortaleza confirma
a regra geral - ficam abarrotadas de veículos, intransitáveis.
É aí onde entram os
viadutos, esses monstrengos que enfeiam de concreto as cidades existem porque,
neste modelo de vida em sociedade, dá-se preferência, nas ruas, aos automóveis
em detrimentos das pessoas. Daí as políticas de mobilidade urbana a serem
incentivadas são sempre aquelas para garantir um fluxo cada vez maior de automóveis
nas ruas. Constroem-se, então, viadutos, túneis, pistas exclusivas... Abram
passagem para os carros e motos, os reis do pedaço! Mas, e nós, gente de carne,
osso e sangue pulsando? E as árvores? A dura realidade: na
sociedade do não-vivo, do consumo de aparências, o artificial é sempre mais
importante que a vida essencialmente humana e natural.
Não é possível que ainda em
2013 se pense o desenvolvimento e o “progresso” em forma de grandes estruturas
de concreto nas cidades, muitas vezes, como no caso do Cocó, interferindo
negativamente nos ambientes naturais. O movimento deve ser completamente para o
lado contrário, este modelo já se mostrou insustentável. É preciso menos
veículos particulares, menos viadutos, menos túneis, mais bicicletas, mais
pedestres nas ruas. Mas não. Na selva de concreto, o trânsito de veículos
precisa fluir, não pode jamais emperrar os negócio$. Afinal, time is money! Enquanto isso, o Cocó
sangra, pois lá se foram mais algumas de suas árvores. Até quando?
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