quarta-feira, 11 de julho de 2012

A arte do grafite!


Grafiteiros de toda a cidade participaram da construção do mural (Fotos: arquivo pessoal)

*Artur Pires

Domingo, 8 de julho de 2012.  O sol a pino, daqueles de “rachar o quengo” e nos fazer “suar em bicas”, brilhava intensamente e não deixava ninguém se esquecer, por um minuto sequer, da sua calorosa presença. O extenso muro do colégio estadual Walter de Sá Cavalcante, na Av. Oliveira Paiva, Cidade dos Funcionários, amanhecera tinindo, pedindo arte. - Me risca, me pinta, parecia dizer. No sábado anterior, um verdadeiro mutirão havia sido formado para chapá-lo em cores diversas, porque, como se diz na linguagem da tribo grafiteira, “chapar o muro” é prepará-lo, com uma mão de tinta superficial, para o grafite que virá posteriormente.

Ainda que com o forte calor que transformava até mesmo uma brisa leve em morna baforada, no domingão de sol, com o mural já chapado, grafiteiros de todos os cantos de Fortaleza foram ao seu encontro. “Personas” e letreiros em “wild style” compuseram a nova paisagem que pintou de significados, cores e letras diversas o muro da escola pública. A transformação do mural do colégio, antes sujo e carcomido, foi instantânea. À medida em que os grafites surgiam na parede, esta ganhava vida e um novo contexto.

O mural foi o grand finale dos projetos “Grafite: Cores da Vida” e “Grafite, Formação e Arte”, selecionados por meio de edital público, e que envolveram oficina de grafite, ministrada pelo grafiteiro Luz (IAC/UG), um dos pioneiros da arte de muro no Ceará, junto com grupos sócio-educativos, facilitados pela psicóloga Beatriz Nobre, que debatiam preconceito racial, orientação sexual, uma nova política de drogas, cidadania, protagonismo juvenil, noção de coletividade, entre outros temas. Os projetos foram voltados para jovens de 15 a 29 anos da Cidade dos Funcionários e adjacências.

A técnica de desenhar nos muros surgiu no Bronx, bairro de maioria negra e pobre em Nova Iorque, no final dos anos de 1960, e ainda hoje é vanguardeada pelo gueto. Desse modo, muitas vezes, o grafite põe em primeiro plano os movimentos da periferia, uma vez que a grande maioria dos seus adeptos é oriunda de regiões nas quais o Estado quase sempre é omisso, com exceção dos períodos eleitorais. Aliás, o ato de grafitar está inserido dentro da cultura Hip-Hop, movimento genuinamente da periferia que une o rap, o break e o grafite.

No Brasil, desde abril de 2011, após a aprovação de uma lei federal, o grafite foi separado definitivamente da pichação, não sendo mais considerado crime. Antes marginalizado e visto com o mesmo preconceito que se tem com o ato de pichar, hoje o grafite consegue, gradativamente, desconstruir a imagem negativa que carregava até anos atrás e desponta como um oásis de cores vivas em meio à árida selva de concreto dos grandes centros urbanos.

Contudo, como no Brasil, e mais ainda no Ceará, vive-se em uma sociedade majoritariamente conservadora, ainda há aqueles que veem a atividade com certa desconfiança e com ares de vandalismo. Uma pena! Porque, para seus adeptos, o grafite é, antes de tudo, o meio utilizado para despejar nos muros, viadutos, passarelas, caixinhas da Telemar - e onde mais for possível os traços de spray - suas convicções, sonhos, angústias, desejos, vontades, enfim, possibilidades infinitas de sensações e expressões.

No final da tarde do domingo, ao observar o novo visual que havia dado vida àquele quarteirão da Cidade dos Funcionários, em frente à praça, a óbvia constatação bate mais uma vez à minha cachola: é...grafite é arte!

*Artur Pires é grafiteiro da União dos Grafiteiros (UG)

10 comentários:

  1. Eu passo em frente a essa escola todos os dias, pois moro perto e fiquei muito feliz na segunda quando vi o muro todo grafitado.

    E foi legal também ver que outras pessoas no ônibus também tinham gostado da mudança, até mesmo senhoras com uma certa idade.

    Muito bacana a iniciativa e tomara que se espalhe por todas as escolas da cidade e do país. Pois é muito triste ver muros brancos, cheios de pichações sem nenhum sentido par aquem não é do grupo. O grafite dá alma aos muros e é arte, pois sempre busca transmitir alguma sensação a quem está observando.

    Parabéns aos responsáveis pela linda arte no WSC.

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  2. Massa, Ágda! Que bom que até as tiazinhas do cambão gostaram do resultado, né? Mas é isso mesmo, o grafite transforma o local onde passa....valeu e abraço!

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  3. AGORA VAMO TORA A GRANA DO PROJETO COM A UNIAO DOS GRAFITEIROS JÁ QUE USOU O NOME DA MESMA PRA CONSEGUIR A CEDA NÉ NÃO PANCADA. SÓ UMA DICA NAS REUNIÕES DAS SEXTAS TÁ FALTANDO UMA CAIXA DE SOM PRA ALEGRAR A RAPEIZE BOA VONTADE E ATITUDE TAMBÉM FAZ VALER

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    1. Ei, Porcão, primeiro, eu uso e usarei o nome da UG sempre que quiser, pois sou integrante e estou nela desde a fundação, em 2000. Inclusive, estava na praça da Cidade no dia da criação da mesma. E, se não me engano, você nem lá estava. Segundo: todo o dinheiro do projeto foi prestado conta com a Prefeitura, mah. Foram compradas 30 camisas pra galera que participou, mais de 200 latas de spray, vários galões de tintas, contratado fotógrafo, tem que pagar o Luz, que fez as oficinas, e a Bia, que facilitou os grupos, material de pintura, lápis, borrachas, resmas etc. Enfim, tem uma série de gastos e tá tudo prestado conta direitim. Agora, em um próximo projeto, tu se habilita a ficar na linha de frente e assume todas as responsabilidades, beleza? Por mim, é de boa!!!

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    2. ei artur arruma uma camiseta dessa pra mim depois mah na limpeza!!!!!!!valeuu

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    3. quem ta falando é MAX UG vete!!!!!!!!valeuu

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  4. e mermo um caixa de som e bom sim porcão com cordo com vc cara

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  5. com cordo com o meu amigo porcaõ queremos uma caixa de som pra reu pras reunião de sexta fera era melho

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  6. poxa, que post legal! adorei os desenhos, realmente deu uma alegria a cidade.
    tem algum desenho seu artur?

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    1. Foi, né Raíssa? Trouxe mesmo uma nova paisagem à Cidade. O meu grafite é o que está na foto embaixo do título (uma mão com o punho cerrado e ao lado 4P - Poder Para o Povo Preto!). Beijão!

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