
(Charge: Clayton/O Povo)
Por Artur Pires
O que fazer quando
todas as factualidades levam ao completo desacreditar na política brasileira? O
que fazer quando “políticos” sem nenhum estofo ético, suspeitos de corrupção, são
“eleitos”, em nome do rodízio entre partidos com maioria de cadeiras, para
presidir casas legislativas federais?
O que fazer quando o
Congresso e o Executivo Nacional, os ministérios, as assembléias legislativas, os
governos estaduais, as câmaras e as prefeituras municipais estão todos
abarrotados de “políticos” cujo interesse, único e exclusivo, é se locupletarem
ciclicamente, enchendo os bolsos com polpudas quantias à margem da
legalidade?
O que fazer quando as
poucas vozes dissonantes do modus operandi supracitado são sistematicamente negadas, silenciadas ou tratadas, por
este mesmo aparato político-institucional, como insignificantes, irrelevantes?
O jogo da troca de
favores, das locupletações, das conversas ao pé da orelha, dos tapinhas nas
costas, dos favorecimentos escusos, das decisões tomadas às sombras, ou seja,
da corrupção em seu mais avançado grau de metástase, é solenemente ignorado,
empurrado cirurgicamente para debaixo do tapete. Quando a tramóia vem à
tona, é enfaticamente negada por senhores engravatados e de paletó, do alto de
suas posições hipócritas de baluartes da ética, da moral e da probidade
administrativa. Nos primeiros dias após o surgimento dos escândalos, a
sociedade mostra-se indignada. Depois, muito pouco depois, cansa, esquece, vai
atrás de algo que a distraia. Vai ver novela, assistir ao futebol ou ao BBB.
Abaixada a poeira, tudo volta à normalidade da roubalheira.
Constatação óbvia
ululante: a sociedade brasileira acostumou-se com as coisas como elas são; dá
de ombros à desenfreada corrupção que toma de assalto todos nós. “Quero nem
saber de política”; “de política eu quero é distância”; “político é tudo
ladrão”; “não interferindo na minha vida, pode roubar o quanto quiser”, entre
outros, são aforismos recorrentes em qualquer lugar do Brasil. Pessoas que
vomitam estas frases não se dão conta que essa ojeriza à política só contribui
para que cada vez mais os políticos da “obsessão do próprio umbigo” - pois só
olham para eles – se grudem feito ventosas às estruturas dominantes do poder e não mais
larguem o osso.
A essa altura da
realidade social e política que teima em me desiludir, nem sei mais se uma
reforma política - que contemplasse o fim do voto obrigatório, o exclusivo e
igualitário financiamento público para campanhas políticas, a distribuição
equânime de tempo de propaganda política obrigatória no rádio e na tevê e a
validade do voto nulo – seria suficiente para uma mudança paradigmática, que é
necessária. O sistema político – e suas representações simbólica e real - e a
sociedade – do espetáculo, do consumo, da abundância - estão tão
irremediavelmente viciados e imiscuídos ao modo de produção hegemônico que até
mesmo uma reforma política dentro desse sistema político ganha ares de “pontual reparo na
engrenagem do sistema”, que precisa continuar funcionando a todo vapor.
O sentimento que paira
insistentemente no ar, mas poucos vêem, é o de que está tudo errado, às
avessas. Consertar, arremedar a estrutura dominante não é a solução. A solução
é destruí-la, pô-la abaixo. O verdadeiro e profundo movimento emancipatório da
sociedade não surgirá do Congresso nem do Executivo Nacional tampouco dos
ministérios, das assembléias legislativas, dos governos estaduais, das câmaras
e das prefeituras municipais. Estas instâncias estão todas carcomidas, escravas
de uma ideologia conservadora ou, quando muito, reformista, de avanços mínimos
e pontuais. Avança daqui, retrocede dali. Essa é a lógica viciada e viciante.
À consciência
emancipatória é necessário difundir-se, grassar louca e desmedidamente, espalhar-se
aleatoriamente por todas as searas e instâncias sociais. Para isso, deve
contar com organizações sociais e de trabalhadores que estejam dispostos a
levar a mensagem revolucionária – não falo aqui de sindicatos pelegos tampouco
de entidades sem fins lucrativos dotadas de fisiologismo -, além de uma
imprensa pró-ativa, combatente e alternativa à grande mídia (uma vez que esta sustenta
e difunde todo esse modelo simbólico de dominação e controle), que exerça papel
crucial, em médio prazo, na libertação da sociedade em relação à lógica mercantil,
do círculo vicioso e exaustivamente repetitivo: exploração do trabalhador
(mais-valia), produção de mercadorias, consumo de mercadorias.
O movimento de emancipação real, revolucionário em
sua própria essência, surgirá das ruas, do povo, das consciências. Das
consciências.
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