(Ilustração: Pawel Kuczynski)
Artur Pires
Artur Pires
Hoje, 5 de junho, comemora-se o Dia Mundial do Meio
Ambiente. Mais do que celebrar, a data nos requer reflexão sobre que tipo de
relação devemos ter com o ambiente natural que nos cerca. Que tipo de
desenvolvimento queremos? Aquele baseado no “progresso” capitalista, que
desconsidera as questões ambientais em favor do economicismo? Ou aquele que,
sub-repticiamente, se apropria do discurso ambiental, para ser politicamente
correto, mas, na prática, age no caminho inverso? Nenhum desses modelos de
desenvolvimento serve para a saúde do planeta.
Ao se deparar com os espinhosos desafios impostos diante
dos muitos problemas ambientais, é necessário um olhar mais abrangente e
holístico sobre suas causas. Trocando em miúdos, o buraco é mais embaixo, uma
vez que a raiz dos problemas ambientais está no modo de produção econômico que
vivenciamos. O capitalismo, além da exploração da força de trabalho do homem
pelo homem, é responsável também pela exploração desenfreada dos recursos
naturais, já que o modo de produção baseado no dinheiro se apropria desses
recursos para vendê-los como mercadoria, afinal, no capitalismo, tudo está
submetido ao deus mercado.
Dessa forma, o ser humano cada vez mais interfere na
dinâmica do meio ambiente, modificando seu curso natural e perfeito,
ocasionando, em consequência dessa intervenção negativa, a resposta furiosa da
natureza: catástrofes ambientais com mais frequência, como tsunamis, invernos
rigorosos, inundações, secas severas, furacões, derretimento de geleiras,
aquecimento global...
O fato é que a relação do homem com o meio ambiente está
completamente equivocada. Se nada for feito para remar contra a corrente
exploratória do agronegócio, do lobby ruralista e do “progresso” capitalista,
deixaremos como legado às futuras gerações, nossos filhos, netos, bisnetos
etc., um mundo artificial de concreto (literalmente!) e flores de plástico.
Água potável? Ah, aí será artigo de luxo!
Precisamos compreender que somos parte integrante de um
todo. Ao se arvorar dono do mundo, da natureza e interferir no seu equilíbrio
harmonioso, o “homo capitalismus” desequilibra essa rede sistêmica em perfeição
que é o meio ambiente, do qual todos nós fazemos parte: homens, bichos,
plantas, minerais, oceanos, mares, vidas microscópicas etc.
A natureza hoje cobra a dívida de séculos de exploração
predatória. E não nos enganemos. Teremos de pagar a conta! Para isso, será
preciso uma mudança de mentalidade, de pensamento; é preciso que surja uma
“nova narrativa”, como diz Leonardo Boff, e um “novo homem”, como queria Che.
Narrativa e homem estes baseados em uma renovada maneira de relacionar-se com a
natureza. Uma mentalidade na qual o homem sinta-se, verdadeiramente, parte
integrante desse meio natural, e não mais seu proprietário.
Será preciso também abandonar a arrogância que nos faz
achar que podemos “domar” a natureza e seus fenômenos. Nesse novo pensamento,
será imprescindível entendermos que não somos os únicos habitantes do planeta
(pois é, muitas vezes esquecemos desse “detalhe”), mas que há uma infinidade de
espécies não humanas que também sentem diretamente os efeitos das intervenções negativas no meio
natural. Por fim, será fundamental nesse
processo de mudanças a adoção de um novo modelo econômico, que respeite e não
explore o homem tampouco o meio ambiente; além disso, que estimule e oportunize
a relação harmônica entre ser humano, modo de produção e natureza. Pensemos
nisso!
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