terça-feira, 22 de maio de 2012

A crença que segrega


A Bíblia cega (Ilustração: autor desconhecido)

Por Artur Pires

Pense rápido: qual o(a) maior responsável por grande parte das guerras e do extermínio de pessoas em toda a história da humanidade?

Teria sido a escravidão? Apesar de ter sido um regime cruel, desumano e que dizimou muitas pessoas, não! O racismo? Também não! Os Estados Unidos? Eles até tentam, se esforçam para tal, mas não, por enquanto ainda não. As políticas bélicas dos demais países ricos? Até que tentam, assim como os estadunidenses, mas também não! Os colonizadores europeus? De fato, portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses dominaram povos, dizimaram muitos nativos da América e da África, mas não, ainda não são eles.


A resposta pode estar encoberta por uma cruz. Mas também escondida por detrás de uma burca. Ou, quem sabe, igualmente acobertada pelas vestes de um rabino. Bem como cortinada pela tromba do elefante Ganesh. Ao longo da história da humanidade, a religião foi a maior responsável pelo extermínio de pessoas e foi também a maior causadora de guerras. Se o ser humano não a tivesse inventado, viveríamos em um mundo mais fraterno, sem tantas segregações e conflitos.

Desde os primórdios, o homem sentiu necessidade de estabelecer uma relação mística com a natureza e seus fenômenos, que ia além do racional. Sol, lua, estrelas e outros astros eram reverenciados como deuses. Por outro lado, tempestade, vulcões, furacões e fenômenos afins eram encarados como castigos dos deuses. Para cada fenômeno natural, um deus ou um castigo dele. 

Roma e Grécia Antiga deram continuação a essa tônica politeísta e, foram além, acrescentaram e inventaram ainda mais deuses, lendas e mitos às crenças pré-históricas. Mas, em momentos distintos da história, charlatões, muitas vezes agindo de má-fé e outras por ignorância ou soberba extrema de se aclamar como o “escolhido”, transformaram essa necessidade do ser humano de relacionar-se com “poderes superiores” em um conjunto de dogmas e pressupostos pseudomorais e ditos religiosos, com o adendo de que só haveria um deus para todas essas necessidades. Estava feita a m...!

Agindo em nome de sua crença monoteísta, a Igreja Católica, essa senhora caquética de mais de dois mil anos, matou, torturou, exterminou, condenou à “fogueira do inferno” todos os que não rezavam (literalmente!) de sua cartilha. Hoje em dia, essa mesma Igreja moralmente na lama é contra o aborto, a camisinha, os homossexuais, a descriminalização da maconha e tudo o que fugir de sua visão conversadora, mas esconde o que muitos de seus padres pedófilos fazem dentro das sacristias com os coroinhas. 

Embora seja muito difícil que alguma outra religião consiga alcançar a proporção do extermínio e das guerras que o catolicismo deu de “contribuição” ao mundo, os islamitas e evangélicos não ficam muito atrás: pregam o ódio às diferenças, acham os gays promíscuos, são absolutamente contra o aborto, proíbem o consumo de diversas substâncias, entre outras posições obscurantistas. Os judeus, mesmo com a gravidade do que sofreram na mão dos nazistas, hoje praticam a mesma política de ódio de Hitler, dessa vez contra os palestinos.  Em vez de aprenderem com o que sofreram na II Guerra, as autoridades judaicas, ao contrário, usam de artifícios segregacionistas e violentos para manter a supremacia bélica e política no Oriente Médio. 

As Cruzadas na Idade Média; as guerras entre católicos e evangélicos, que já mataram milhares de pessoas na Irlanda; o atentado de 11 de setembro; a guerra do Afeganistão; dezenas de conflitos étnico-religiosos nos países africanos; atentados a bomba no Iraque, no Paquistão, na Índia, no Irã; a incessante disputa entre palestinos e judeus, que já ocasionou milhares de mortos dos dois lados... tudo causado pela religião, seja ela cristã, judaica, islâmica, hindu etc.

Há uma evidência explícita aí: a religião muito mais segrega, aparta, incita o desrespeito às diferenças do que o contrário.

A religião como um negócio

(Ilustração: Alpino, portal Yahoo)

Hoje, no Brasil, abrir uma igreja é o mesmo que montar um negócio. O pior é que o investimento parece ser cada vez mais de alta rentabilidade. Os charlatões de plantão, que não são bobos, perceberam a mina de ouro, decoraram todas as passagens da Bíblia e partiram para o assalto, ops, quer dizer, para as pregações. A cada esquina, vê-se um novo templo “sagrado” aberto. Pastores da noite para o dia enriquecem, entopem os bolsos e empanturram-se de dinheiro, vendendo passagens para o céu à custa da ignorância dos crentes. Depois, estouram garrafas de champanhe para comemorar o sucesso do business e transferem boa parte da grana para paraísos fiscais d´além mar. E tudo, tudinho endossado pelo Estado brasileiro, que não cobra tributo às igrejas.

O mais preocupante de toda a questão é que o número de adeptos a estas seitas só aumenta ao passo que a outra parte da sociedade não consegue responder à altura. Enquanto movimentos políticos importantes conseguem participantes minguados para as suas manifestações, a Marcha para Jesus pela Família - organizada pelo pastor Silas Malafaia, figura reacionária que incita o ódio aos gays e descaradamente vende a fé (veja vídeo abaixo) aos seus seguidores das maneiras mais bizarras – atraiu mais de 100 mil pessoas (isso mesmo, 100 mil) no Rio de Janeiro e em São Paulo. É de desesperar!

Pense rápido: desse jeito, onde vamos parar?


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