(Foto: autor desconhecido)
Artur Pires
Hoje, 19 de abril, é o Dia do Índio. Como bem disse Jorge Ben em seu hino às etnias indígenas Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar (Todo Dia Era Dia De Índio), antes, todo dia era dia de índio, mas hoje eles só têm o dia 19 de abril. Acrescento: nem o 19 de abril eles têm mais. A bem da verdade, o dia é meramente simbólico porque em termos objetivos e reais, no que diz respeito a terem garantido seus direitos, eles não têm nada – ou quase nada.
Quando os portugueses aqui
chegaram e invadiram a Terra Brasilis, eles, os índios, já estavam aqui.
Quando os mesmos portugueses traficaram negros para cá e povoaram o país com
diferentes etnias africanas, eles já se encontravam por estas terras. Sempre
estiveram. Mas isso não foi muito valorizado em toda a nossa história, em nossa
formação enquanto povo. Os índios foram sendo deixados de lado, escanteados e
dizimados, e hoje representam uma parcela ínfima da população brasileira. Por
isso causa-me imensa indignação quando, ao ocuparem terras de fazendeiros
latifundiários, a mídia os trata como invasores. Ora, senhora Globo e demais
asseclas, os índios apenas estão reconquistando o que é e sempre foi deles por
direito. Nada mais natural. Nada mais justo.
Hoje em dia, deparar-se com um
índio “de verdade” só mesmo embrenhando-se nas matas. São considerados figuras
exóticas pela maioria das pessoas. Encontrá-los no espaço urbano é quase tão
difícil quanto achar agulha em palheiro (com o perdão do clichê), pois, com o
passar dos séculos, as tribos e os costumes indígenas foram negligenciados e
relegados a uma importância menor e suas populações afastadas do convívio com
os demais brasileiros. Erradamente! Perdemos muito! Para mim, perdemos,
principalmente, algo que é muito peculiar dos índios: a sensibilidade
necessária para agirmos em acordo com a natureza e seus fenômenos e, a partir
daí, aproveitar toda a riqueza e magia que ela nos oferece. Nós, urbanóides,
podemos até usufruir dessas riquezas naturais ao irmos à praia tomar um banho
de mar (no meu caso, surfar), ao subirmos uma serra e curtirmos (verbozinho da
moda esse, hein?) o verde exuberante, aquele friozinho gostoso e o canto dos
pássaros nas árvores, mas nunca, nunca entenderemos a natureza como os índios a
compreendem e a vivenciam.
Isso sem falar no senso de
cooperação e partilha das aldeias indígenas, verdadeiros exemplos do que é o
comunismo em sua essência: a comunhão de bens, valores e idéias.
Enfim, se tivéssemos mais da veia
indígena em nossas ações e comportamento, certamente seríamos uma sociedade
melhor, mais justa, mais igual, mais humana, menos egoísta, mais natural... Acho,
sinceramente, que está faltando um pouco de índio em cada um de nós.
PS: Não poderia deixar de
referenciar aqui minha ascendência indígena (estampada claramente na minha aparência
física). Não tenho certeza da etnia, mas muito possivelmente minha ascendência
é Kariri, da região sul do estado, no Cariri, onde nasci e cresci (nascido em
Barbalha e crescido no Assaré). Se já tenho traços indígenas, meu avô Chico
tinha muito mais: sujeito de poucos pêlos no corpo, da pele vermelha, do cabelo
liso em formato de cuia e dos “zói” puxado. É!, tenho a quem puxar.
A mais pura verdade! Se nosso lado índio aflorasse, não teríamos tantos problemas ambientais!
ResponderExcluirÉ verdade, Alana. Concordo com você. Em relação ao respeito ao meio ambiente os índios têm muito a nos acrescentar, mas, além disso, a cultura indígena ainda tem muitos outros valores a nos ensinar.
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